
Está rodando pela Internet umas montagens feitas com o futuro deputado Tiririca com a palavra "paçei". Para muitos tem sido motivo de piada, mas sinceramente é algo muito preocupante.
Não estou aqui entrando no mérito de julgar ou dar um discurso se Tiririca é analfabeto ou alfabetizado. Isso é função da justiça. Um país onde o presidente também passou poucos anos nos bancos escolares, ter um deputado analfabeto não é de se admirar. Honestamente, até penso que ele poderá fazer algo. Quem sabe alguém do "povão" nos ajude a mudar esse país excludente.
O que me preocupa realmente é que tipo de prática pedagógica, a escola, ou escolas, onde Tiririca frequentou, foi desenvolvida. Por que digo isso? Porque Tiririca, como outros milhões de brasileiros, não são alfabetizados, mesmo passando pelas primeiras séries do Ensino Fundamental. E estou falando aqui de alfabetizar mesmo: saber ler e INTERPRETAR. Não basta só conhecer o código escrito, é preciso entender a mensagem, caso contrário de nada nos adianta, a não ser para assinar na eleição, digitar números de candidatos ou reconhecer o ônibus que nos leva de casa para o trabalho.
O que aconteceu para Tiririca perder o estímulo pela escola? Uns podem dizer que pobre precisa trabalhar, outros talvez falem que era preguiçoso mesmo, não aprendia porque não queria. Não importa qual motivo, o que interessa é saber o que a escola deixou de fazer, ou fez, para que nosso futuro deputado não aprendesse.
Muitas são as exclusões veladas na escola. Para a dislexia (como euzinha aqui que vos escreve) um sonoro: "é burro mesmo, não consegue aprender". Para o surdo um silêncio aterrorizante e a exigência de aprender a Língua Portuguesa, deixando esquecida a língua materna (LIBRAS - Língua Brasileira de Sinais) dos deficientes auditivos. Para o cego a mais clara escuridão. Para cadeirantes e muletantes, escadas.
Estou sendo cruel nas minhas colocações? Você até pode pensar isso, mas não estou não. Eu vivo escola, respiro educação. Hoje já avançamos muito na inclusão. Sou prova viva disso. Porém, nem todas as escolas estão preparadas para a realidade que nossos alunos trazem. Na escola onde atuo, são POUCOS os profissionais que se preocupam com a inclusão. É bem mais fácil condenar o governo. Bom, na verdade o governo tem uma parcela ENORME nisso, mas nós educadores também. Fácil justificar incompetência , irresponsabilidade, acomodação, colocando a culpa nos outros.
Por favor colegas de profissão, não me joguem pedras. Não estou querendo culpá-los também, mas ficar parado vendo o barco passar e não apreciar a beleza do quadro é culpa nossa sim. Também já fui uma professora excludente, afinal não entendia pessoas com deficiência na escola. Já reclamei: "o que vou fazer se não sei lidar com isso?" Fui extremamente cruel! Não por maldade, mas por falta de conhecimento, de ir em busca de solução. Quando ACORDEI, pude mudar um pouquinho a história e hoje já não entendo educação se não for INCLUSIVA.
Temos que levantar a bandeira da INCLUSÃO. Para todos "viu"? Necessitamos compreender que as diferenças existem e temos que alfabetizar nossas crianças respeitando as diversidades. Imagine um mundo todo igual; seria monótono, desestimulante, sem cor. Que venha muitos Tiriricas às escolas e que nós educadores realmente saibamos alfabetizá-los.